sábado, 9 de novembro de 2013

A ascensão e decadência de alguns engenhos de rapadura dos municípios de Bernardino Batista e Vieirópolis.

ENGENHO 3

A rapadura é um doce de origem açoriana ou canária em forma de pequenos tijolos, com sabor e composição semelhantes ao açúcar mascavo. Fabricada em pequenos engenhos de açúcar, surgiu no século XVI como solução para transporte de açúcar em pequenas quantidades para uso individual. A rapadura é feita a partir da cana-de-açúcar após moagem, fervura do caldo, moldagem e secagem. É considerado um alimento com maior valor nutritivo que o açúcar refinado pois, enquanto este é quase exclusivamente sacarose a rapadura possui outras substâncias nutritivas em sua composição.

É típica do Nordeste do Brasil e de diversas outras regiões da América Latina, onde recebe diferentes nomes como: panela (Colômbia, Venezuela, México, Equador e Guatemala), piloncillo (México), papelón (Venezuela e Colômbia), chancaca (Bolívia e Peru), empanizao (Bolívia) ou tapa de dulce (Costa Rica). O nome rapadura (ou a variação raspadura) é utilizado também na Argentina, na Guatemala e no Panamá. Seu uso também é disseminado na Índia.

A produção de rapadura, fora no passado um setor de grande importância econômica. Essa atividade absorvia grande parcela da mão de obra. O ciclo da rapadura teve uma grande importância econômica para a região do alto sertão da Paraíba, além de ter deixado memoráveis saudades. A rapadura – um dos itens mais saudáveis da alimentação do homem rural – infelizmente deixou de fazer parte de seu cardápio.

Mas o valor da produção de rapadura não se deve apenas à sua rentabilidade econômica. Esse período foi responsável também pelo engendramento de classes sociais distintas e fortemente desiguais. Além dos senhores, os proprietários dos engenhos ou associados, seus colaboradores mais diretos, havia também os mestres, responsáveis pela produção da rapadura e os “cambiteiros”. Estes não eram escravos, todavia suas condições de vida e trabalho nunca foram muito favoráveis. Executavam o trabalho pesado, desde o corte da cana ao carregamento em burros ou jumentos ornamentados com cangalhas e cambitos – peças vitais para o carregamento da cana que seria moída nos engenhos.

O cambiteiro era um trabalhador essencial para o funcionamento do engenho. Tanto na produção e transporte da rapadura como no carregamento da lenha – fonte de energia utilizada no engenho. Todos os produtos produzidos no engenho como rapadura, mel e alfinin – eram transportados pelos burros conduzidos pelos cambiteiros. Estes homens sertanejos eram expostos às subcondições de trabalhos, aos riscos momentâneos e periódicos de acidentes e às doenças ocupacionais advindas. A ascensão social do cambiteiro era praticamente inexequível.

A classe de produtores de rapadura, mel e alfinin, à medida em que a sociedade foi evoluindo, os senhores de engenhos não acompanharam o desenvolvimento. Não procuraram se modernizar agregando outros valores à rapadura e com o progresso foram surgindo diversos produtos de alimentação, como variedades de doces com embalagens fascinantes e a rapadura ficou ultrapassada. Até hoje se produz rapadura no Brasil com métodos e técnicas rudimentares. Não houve a introdução de inovações no processo produtivo nem diversificação de produtos.

Principais problemas para o não crescimento do setor: baixa lucratividade associada com custos elevados, preços reduzidos, baixa capacidade de investimento e escassez de capital de giro, escassez de água e de irrigação para cana, dificuldades de comercialização, encargos sociais elevados, dentre outros.

Os senhores de engenho formavam a chamada aristocracia rural. Eram obedecidos e respeitados por muitos. Donos das terras, dos canaviais e senhor de tudo. No município de Vieirópolis destacaram-se várias unidades produtoras de rapadura como o engenho de propriedade do senhor José Moreira da Nóbrega (Zé Moreira) na comunidade de Segredo. O senhor José Moreira da Nóbrega, 90 anos de idade, reside do Distrito de Campo Alegre. O saudoso agropecuarista Assis Barbosa era detentor de um grande canavial nas comunidades do Pinhão e Bomfim. Foi responsável por uma grande moagem e gerou emprego e renda na época. Na comunidade de São Diogo destaque para o engenho de propriedade do saudoso Zuza Emídio, tio do ex-vereador e ex-vice-prefeito de Sousa, advogado Chiquinho do PT, dos empresários Valdeci Emídio Gomes, José Estrela e Edilson Sousa, residente em Mossoró. Zuza Emídio era avô do comerciante sousense Nenen de Nestor.

Na comunidade de Riacho- zona rural de Vieirópolis foi fundado um engenho pelo Sr. Olegário Moreira “in memoriam”. Seus herdeiros empresário Manoel Moreira, servidor público Francisco Noé Estrela, servidora pública Francisca Moreira Estrela, Erialdo Estrela e Assis Estrela tentaram colocar no mercado a cachaça “Moreirinha”.

Também na comunidade de Riacho foi fundado o engenho de propriedade do saudoso agropecuarista e ex-vice-prefeito de Vieirópolis, José Júlio Gonçalves de saudosa memória, avô da ex-vereadora, advogada Eva Pires.

No municio de Bernardino Batista foi fundado um engenho pelo saudoso agropecuarista José Tomaz Estrela (Zé Tomaz). Zé Tomaz era uma figura respeitada e grande reserva moral de Bernardino Batista e da comunidade de Jenipapeiro-zona rural de Poço de José de Moura. Muitos o chamavam de coronel Zé Tomaz. O senhor José Tomaz era pai do ex-vice-prefeito de Bernardino Batista, Antonio Estrela; avô do líder político e empresário Paulo Estrela, do atual vereador Sebastião Estrela Batista (Bastim de Albuíno); tio do secretário de Obras de Vieirópolis, Sinval Barbosa, do ex-vice-prefeito de Luís Gomes, José Abrantes Barbosa, da atual vice-prefeita de Luís Gomes, médica Antonia Gomes Abrantes Barbosa e da vereadora Eva de Sousa Lira (PT) Poço Dantas. Com a morte do Sr. José Tomaz o seu filho Joca Tomaz assumiu o comando do engenho.

Hoje, sem os engenhos só resta saudades da atividade da moagem, do cheiro da rapadura, do mel, do caldo de cana, do alfinin e, especialmente das piadas inventadas pelos cambiteiros.

Abdias Duque de Abrantes

Advogado - Pós-graduado em Direito Processual do Trabalho pela Universidade Potiguar (UnP) e Jornalista

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